Em Viamão tem comida boa! [Parte 1]

Estávamos com tudo pronto para pegar a estrada de Rio Manso para visitar dois produtores da nossa rede quando começou uma chuva leve, mas persistente. Como tínhamos recebido o seguinte aviso: “se tiver chovendo, a gente marca para outro dia porque lá no sítio ninguém consegue chegar ou sair quando o barro toma conta”, ligamos para confirmar se era viável nossa ida. “É sim, como a chuva só veio agora a estrada ainda tá seca, pode vir!”, assim saímos com a garantia de quem conhece a terra de que o tempo não iria nos atrapalhar.

Combinamos de encontrar com o Davi num determinado ponto do caminho, para que terminássemos de chegar sem nos perder entre as muitas bifurcações da estrada. Chegamos no ponto de encontro, e ele, sempre muito solícito nos disse: “vou parar em dois pontos do caminho, um é a entrada do Novo Mundo de Yacarantã (que ficou para outro post) e o outro é o mata-burro, atenção ao atravessar”. Fomos seguindo o seu carro por uma estrada íngreme, que em muitos pontos pede habilidade de quem dirige. Aos pouquinhos fomos chegando em uma pequena concentração de casinhas, era o início do povoado chamado Viamão.

É entre montanhas, árvores, e algumas casinhas que é feita a produção da Sabores da Ci e da Porteira Verde. O cenário é perfeito e a nossa primeira parada é no sítio da Cirlene, onde os pestos dos mais variados são pensados. Nem mal descemos do carro já começamos a sentir um cheiro forte de manjericão, os canteiros que rodeiam a casa estão repletos de pés grandes e verdinhos.

Fomos recebidos pela Ci, que como uma boa mineira, nos chamou pra sala e nos ofereceu um café delicioso. Para acompanhar? Um queijo fresco de um vizinho que mandou pra gente experimentar. Ela pergunta se fizemos boa viagem, e conta como é difícil sair depois de longas chuvas, que impossibilitam o trânsito na estrada. Diz que para chegar nas feiras com segurança prefere sair com duas horas de antecedência para evitar os atrasos. Sua rotina dos finais de semana consiste em acordar, tomar um café, guardar os produtos na geladeira portátil e enfrentar a estrada.

Para quem não sabe, a Sabores da Ci e a Porteira Verde participam das edições da Feira Fresca desde a primeira! Antes os molhos da Sabores da Ci compunham o leque da produtos da Porteira. Ela me conta que a decisão de caminhar lado a lado, porém com marcas separadas, foi para facilitar sua produção e dar uma identidade maior para os produtos que fabricava.

A chuva diminuiu e fomos para o quintal conhecer sua horta. Os pés de manjericão enfeitam todo o local, cheirosos e robustos, são eles que dão a base para o pesto tradicional, que ainda é campeão de vendas. Vários testes foram realizados com espécies variadas oferecidas pela Fábrica de Hortas: manjericão limão, baunilha, basilicão, e muitos outros, mas foi o manjericão comum que ganhou a disputa de sabores! 

Cercados por bambus e coberto por um sombrite, descobrimos que a região é repleta de jacus e que se a horta não tiver bem protegida eles fazem a festa, estão os canteiros com espécies que integram a receita de seus muitos sabores de pestos: hortelã, salsinha, cebolinha, rúcula, agrião, couve, ora-pro-nóbis e é claro, as taiobas! As taiobas são um cenário a parte, grandes e verdinhas elas chamam a atenção, são também ingredientes da receita de um dos pestos veganos que mais amamos, o de taioba. Com um sabor suave, mas característico, esse pesto conquistou os corações dos mineiros que sofrem quando elas saem de cena no inverno.

Quando saímos da horta, perguntei para a Ci o que fez ela começar a produzir. Ela me contou que em um determinado momento da vida ela percebeu que tinha tudo. Era uma grande profissional, tinha a casa dos sonhos, o carro que queria, uma aparência impecável de quem ia no salão toda semana e à academia todos os dias, mesmo com tudo isso tinha um buraco gigante que ela não conseguia preencher. Uma falta de não querer mais nada, de ter conseguido tudo, de querer respirar mais fundo às vezes. Foi ai que ela decidiu que largaria tudo e iria para o interior. Comprou o terreno em Viamão, perto dos seus amigos que já tinham ido morar lá, e se mudou de vez meses depois. Ela quis plantar, colher, cozinhar. Acordar todos os dias com uma vista para uma cadeia de morros fazia ela mais completa e assim ela começou, primeiro em parceria com a Porteira Verde, produzindo no terreno do Airton,  e depois explorando o próprio terreno, na cozinha do seu sítio.

A Ci gosta de cozinhar sem música, ao som dos passarinhos. Suas receitas, levam sempre alguma hortaliça de sua horta complementada por azeites selecionados, queijos de procedência confiável maturados de acordo com o gosto da pesteira e castanhas de qualidade. Nenhum corante ou conservante é usado que não os naturais, como sal e azeite. Ela conta que algumas receitas são mais desafiadoras e exigiram muita pesquisa para chegarem na textura e gosto desejado, o pesto de ora-pro-nóbis, por exemplo, exige quantidades precisas dos ingredientes para que funcione perfeitamente.

Terminamos nossa visita com uma foto de família que mostra a linha completa do que ela prepara nesse oásis e saímos com um maço de taioba, além de plantas medicinais que segundo ela, eram boas pra garganta, o que nós certamente precisaríamos depois dessa chuvinha. Saímos abraçados por essas montanhas cheias de história rumo à Porteira Verde para desvendar um pouco mais os segredos dessa terra que atraiu tanta gente.

Semana que vem encontre aqui o final de nossa deliciosa viagem!