Cerveja artesanal e comida local é no Pompeia

Na nossa busca pela cidade por iniciativas que incentivam a produção local, encontramos o Juramento 202, Jura para os íntimos. Localizado numa esquina do bairro Pompéia, a casa oferece chope artesanal a um preço acessível, petiscos e sanduíches deliciosos, som de vinil, um banheiro a céu aberto, nostalgia de mercearia, e muito mais, tudo isso incentivando a produção local, colocando em foco, até então, um bairro pouco conhecido do restante da cidade.

Encontramos com os três sócios Rafael, Marcelo e Samuel, num sábado, fim de tarde, para conhecer um pouco mais dessa história. Chegamos ao bar e eles estavam, como os muitos clientes, sentados no meio fio na esquina de frente para o Jura tomando um chope no copo de vidro. Esse cenário de interior é muito comum por lá. Com transversais pouco movimentadas, quem está a fim de pegar uma vitamina D ou até mesmo respirar ar fresco, encontra na calçada um refúgio para curtir um bom chope enquanto joga conversa fora. Nesse dia a calçada e o asfalto estavam apinhados de gente e os meninos sugeriram que fôssemos conversar num lugar mais tranquilo, o bar do Baiano. Localizado na rua lateral do Jura, o Bar do Baiano funciona há mais de 50 anos no mesmo local, fundado pelo Baiano, figura lendária,  é um bar pra lá de familiar, onde na época do patriarca era proibido até beijar! Agora tocado pelo filho, as regras afrouxaram um pouco, o humor melhorou  (dizem que o Baiano, falecido há alguns anos, era um dos sujeitos mais sisudos da região), mas a comida continua deliciosa. Os meninos já chegaram abraçando o Anselmo, trazendo um chope Viela, e pedindo logo uma porção de carne de sol com mandioca na manteiga. Fomos avisados que o pastel de carne seca com jiló estava imperdível e descobrimos que nas sextas feiras, por volta das 20h, o Juramento 202 recebe do bar do Baiano fornadas de pastel para o delírio da clientela.

Samuel começou nos contando que a Cervejaria Viela inaugurou primeiro a fábrica no bairro. Os três sócios, amigos de infância, possuíam um grande desejo de escoar a produção cervejeira a um preço justo, quando a loja da esquina entrou no mercado para ser alugada. Eles não perderam tempo e começaram os planos de construir o Juramento 202, agregando como quarto sócio o Luiz, que coloca ordem na casa e possibilita o Jura ser a ponta dessa cadeia. “Com menos atravessadores conseguimos colocar o chope artesanal no mercado a um preço competitivo frente às grandes cervejarias.” explica Samuel. Ele é o mestre cervejeiro responsável por todos os estilos da Viela e quem inventa alquimias para usar a estação e a potencialidade da natureza a favor da produção. Na cervejaria já foram feitas cervejas de jabuticaba, abacaxi, limão capeta. O uso de frutas e legumes nas receitas aproveita o açúcar proveniente delas para substituir, em parte, o malte importado e fazer uma cerveja com gostinho ainda mais tupiniquim. É o caso da cerveja de beterraba que eles desenvolveram e que teve como resultado uma substituição de 30% do malte, resultando numa uma cerveja leve, de cor vibrante e levemente adocicada. Ponto pra Viela!

Por não ser uma cervejaria grande, eles se permitem fazer experiências e inclusive envolver clientes e amigos nessa busca por novos sabores. Essa é a história da cerveja de amora, que começou com uma busca por amoreiras na cidade e terminou com um banco de dados incrível sobre a localização dessas árvores. Samuel conta que recorreram ao mapeamento de árvores do google para ir atrás de amoras maduras para o experimento, que chegavam com uma lona e iam sacudindo galhos para pegar maior quantidade da fruta. Divulgaram em suas redes sociais e muita gente entrou na brincadeira da caça às amoras, revelando árvores antes não mapeadas no terreno urbano. Ao fim da busca mais 30 árvores foram inseridas no banco de dados.


A comida no Jura é uma atração a parte. A primeira coisa que quem chega nota é um imponente fatiador de frios – ele é a estrela da casa – sem cozinha, o jura oferece tábuas de queijos, pães e frios para compartilhar – e sanduíches para matar a fome. Os frios são feitos em Belo Horizonte, e ao invés de presunto parma, algo mais brazuca como uma picanha defumada integram a variedade que se encontra por lá. A seleção de queijos não podia ser diferente, os maturados e mineiros são garimpados pelos sócios. Já os pães são da Bagueteria Francesa – destaque aqui para os pães de malte, feitos com o malte entregue pela própria Viela.  O pesto e a pimenta da Cura Mágoa. E o mais badalado, molho barbecue de pimenta biquinho, é da Delícia de Iaiá, produtora constante nas Feiras Frescas! Iara Milagres, conta que boa parte da produção dela é escoada pelo Jura, usando o molho tanto para os sanduíches quanto para acompanhar a tábua, e também vendendo para os clientes que chegam apaixonados por aquele sabor. Lá o molho é vendido pelo mesmo preço que é encontrado nas feiras – Iaiá faz questão!

Quem não tem cozinha caça com parcerias! É assim que o Jura consegue ter uma variedade deliciosa de produtos disponíveis, contando inclusive com variações de cardápio. É o que acontece quando eles chamam alguém para pilotar o único fogão que fica no próprio salão. Um prato único e exclusivo, feito só naquele dia para os clientes sortudos que foram conferir. O pastel de couve flor com queijo do baiano é outra delícia que faz sucesso quando chega quentinho do bar vizinho.

Essa parceria com vizinhos e trocas com o bairro não acaba no Baiano! É o caso das batata chips artesanais, fritas em óleo de algodão, sem conservantes e/ou adição de produtos químicos. Negócio fechado quando o produtor, que passava por lá, deixou uma amostra pro pessoal experimentar. Aprovadíssima, hoje 26kg de Batattitas chegam por semana para suprir as boquinhas nervosas do Jura.

“Se alimentar é um ato político” diz Rafael.  Dentro das possibilidades a Cervejaria Viela e o Juramento 202 subvertem a cadeia de distribuição de cerveja, inserem elementos da nossa terra para diminuir a importação, facilitam o acesso à cerveja artesanal, disponibilizam alimentos locais e diminuem o ritmo num mundo tão acelerado. No Jura o analógico se sobressai, os funcionários trabalham com liberdade, os frios são cortados no dia, o chope é fresco e quase km zero, o preço é justo. Lá a confiança é a base da relação e um aviso na parede informa: “Quer o copo? A gente vende bem baratinho”.

Motivos não faltam para vir aproveitar e curtir um dia/noite nesse lugar com jeitinho de passado que é presente e incentiva práticas do futuro.

Vida longa ao Jura!

 

 

2 respostas para “Cerveja artesanal e comida local é no Pompeia”

  1. Só posso me unir ao Feira Fresca e desejar vida longa e próspera ao Jura! Simples, inteligentes, criativos e pró-parcerias. Muito sucesso para os três sócios!!!!

  2. Vida longa ao Jura!!!
    Um dos lugares mais honestos que já conheci!
    Que conservem sua essência, Belo Horizonte merece um lugar assim!

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